domingo, 18 de março de 2012

Para Sempre Meninos


Apesar de muitos falarem que consideram um amigo como um irmão, nós, possuidores reais desse título de fraternidade, sabemos que no fundo não é a mesma coisa. Irmão é irmão. Não está ligado ao fato de "ter que ser o nosso melhor amigo". Ainda que tenham personalidades bem diferentes, que não se suportem e que você prefira manter certa distância, dois indivíduos quando educados exatamente pela(s) mesma(s) pessoa(s) estão unidos de uma tal forma que os fazem imprescindíveis na vida e na personalidade do outro. Esse amálgama ainda que seja ódio é o verdadeiro ‘amor fraterno’. Se for mesmo feito de amor e os irmãos tiverem sido criados na mesma ninhada, juntos e solidários ah... aí é capaz de perfumar fotografias!E foi esse perfume que fez cócegas ainda a pouco em meu coração a ponto de me fazer gargalhar e escrever.



Abri um álbum antigo na estante e transferi-me para aquela dimensão que  frequentamos sempre acompanhados mas que não nos permite levar nada do que temos no presente. Fui atingida por uma rajada de saudades ao ver a minha infância em preto e branco e dediquei-me a refletir sobre algo...e mais uma vez cá estou eu no topo da montanha olhando o horizonte pensando sobre como a minha vida sem os meus irmãos seria muito menos interessante.


Os cabelos podem ficar brancos, as rugas podem ter 'feito residências em nossos rostos', mas se temos pelo menos um irmão, haverá sempre um lugar dentro da gente em que seremos eternamente meninos. Ainda que a relação esteja longe de ser igual a uma planície serena e sim, cheia de altos e baixos esse amor jamais se desloca para uma área de risco – para onde vão sempre os outros tipos de amor. Frases inteiras são desnecessárias, pois o entendimento se dá muitas vezes pela troca de um sorriso que sabe lá - sabemos somente nós - que longínquas lembranças aquela troca de olhares desenterrou. E a despeito dessa tal natureza humana que é tão pérfida e traiçoeira, o amor de irmão nem sequer precisa ser verbalizado e ainda assim permanece evidente. Eles sabem sem sombras, faíscas e nódoas de dúvidas, e ninguém precisa ficar reafirmando nem em emails, nem em redes sociais públicas, nem em telefonemas, nem em blogs!, pois somente as coisas abaláveis precisam dessas evidências.


Certamente, mais pobre, mais amarga, mais só e menos Elika eu seria sem eles, os meus outros takimotos. Como viveria sem todo esse tesouro lapidado pelas horas aromáticas na infância e na adolescência que só nós, os irmãos, os nascidos em tempo hábil da carne de mãe e pai, sabemos onde está enterrado?








segunda-feira, 5 de março de 2012

Ah, eu queria tanto...


Eu queria postar algo tão engraçado no facebook que aquele meu amigo que está sozinho do outro lado naquele seu mundo cinza quando lesse a minha postagem risse, mas risse tanto que chegasse a chorar e  que ele mesmo ficasse admirado ouvindo sua gostosa gargalhada, e depois falasse para si próprio “meodeos, que coisa mais engraçada!”.  E, então, ele esquecesse um pouco da tristeza e fosse contar a minha historinha para a empregada. Ah, que minha história fosse como uma banana-split, irresistivelmente doce, colorida e tão bonita (que tem gente que até fotografa antes de comer) que depois de  prová-la, a vida de meu amigo tão recolhida, encarcerada e enuviada viraria pelo avesso. 

E que um marido que estivesse em casa mal-humorado, aborrecido com a mulher... que ele também fosse atingido pela minha postagem. O marido veria a minha “atualização”, leria e começaria a rir alto. A esposa, em outro cômodo, sorriria pensando que o seu amor finalmente compreendeu que tudo aquilo era uma grande bobagem. E ele a chamasse para mostrar a tela do computador onde tivesse algo de minha autoria. Ela inicialmente decepcionada pensaria em voltar para o quarto, mas ao dar as costas mudaria de ideia ao ouvir o som das risadas de seu marido. E que ficassem os dois rindo mais um pouco, e ao ouvir o riso do outro se lembrassem, então, dos tempos em que se apaixonaram quando riam sempre bem alto e tão juntos, e recuperassem os dois a alegria que o cotidiano cisma em tirar da gente.

Que o tempo que não passa nas salas de espera fosse insuficiente para o paciente mostrar a todos, que também estivessem impacientes, o que eu havia postado. Que uma mãe, aborrecida com seu filho o liberasse do castigo e lhe dissesse “por favor, se comporte! Eu te amo!” depois de ter lido a minha história super engraçada e o filho se comportasse porque queria ver a mãe alegre para sempre. Que no metrô lotado a minha postagem servisse para fazer do desconhecido, que te espreme e te incomoda, um novo amigo, pois ele não conseguiria não rir alto ao ver, pelo seu ombro, o que eu havia colocado no facebook, e sempre que vocês se encontrassem de novo caíssem na gargalhada só de lembrar como a amizade começou. Que as dores crônicas fossem curadas de tanta endorfina liberada ao verem o que eu fiz. Que os pastores, fascinados pela graça de minha obra, respeitassem seu rebanho. Que os patrões tratassem melhor seus empregados, que mais livros fossem abertos, que as farmácias falissem e as favelas fossem pacificadas porque todos que rissem muito lavariam sua consciência com as lágrimas de alegria que a minha postagem proporcionaria.

E que ao ser tão compartilhada, a minha atualização de status fosse traduzida por tradutores on lines diversos para línguas que nem sabemos que existem. Que um árabe qualquer arrancasse a burca de sua esposa só para conferir o seu sorriso quando ele lhe contasse o que alguém no Brasil escreveu. Que o frio da Alemanha e dos alemães fosse minimizado e mais cervejas fossem tomadas em uma alegre homenagem à besteira que eu havia inventado.

E quando me perguntassem por que eu escrevi aquilo eu desconversaria para esconder a triste verdade: que passei horas matutando uma forma de rapidamente reverter o desalento daquele amigo que anda compartilhando músicas lentas demais, fotos estranhas, que não consegue curtir mais nada e não se anima nem mais com as sextas-feiras...