Para Hideo, meu filho adolescente que atualmente só fala em sair de casa e que vive me alertando que não será o “meu filhinho” para todo o sempre. Até parece...
Rio Claro, 10 de Julho de 2009.
Cara Conceição,
Há quanto tempo não nos falamos! Como está, minha amiga? Geraldo está bem?
Estou te escrevendo porque preciso dividir com alguém tamanha alegria que sinto e me lembrei de você. A letra está tremida porque estou repleta de emoção: meu menino voltou para casa!
Eu levei um susto quando abri a porta e o vi. Como cresceu, Conceição! Ele chegou como essas crianças mesmo que aprontam, sabe?, e ficam com medo de apanhar. Com carinha de pobre-coitado. Pediu logo desculpas e me deu um abraço longo e muito apertado. Sempre soube que ele voltaria. Disse que veio para ficar e nunca mais me abandonar. Eu até agora estou sem acreditar.
Às vezes acordo, penso que foi tudo um sonho. Vou ao quarto dele e o vejo dormindo como um anjo! Eu sabia que Deus estava me ouvindo. Mas, o danado se descobre todo quando dorme, Conceição, acredita? Comprei para ele um pijama de calça e mangas compridas, e quem disse que ele gosta? Qualquer dia acorda resfriado.
Voltei a cozinhar todos os dias, a fazer feira toda semana... Como o meu filhote come, Conceição! Dá até prazer de ver! Essa idade eles precisam mesmo se alimentar muito bem. A tarde ele vai se encontrar com alguns amigos que já fez por aqui pela vizinhança.Eliseu sempre foi de se enturmar fácil desde criança! Mas eu fico preocupada...a gente ouve cada coisa na televisão. Falei para ele trazer os amigos para cá, para eles ficarem jogando aqui, mas acho que eles se sentem meio constrangidos com a minha presença. De qualquer forma, ele nunca volta tarde, pois, sabe que eu só durmo quando ele chega. Como amadureceu meu Eliseu, Conceição.
É, minha amiga, peço a Deus para me dar muita saúde para eu poder cuidar do meu filho. Agora que ele está aqui, esses anos que se passaram, quantos foram, Ceição?, Deus fez parecer visto de agora que foram apenas alguns dias. Isso está me confundindo. Agora, falando com você, fiz as contas... Ele saiu de casa logo depois que a aquela atriz loira e também muito bonita morreu. Lembra dela, Conceição? Mérilin Monrou. Não sei escrever em inglês, amiga. Isso foi em 1962. Eliseu, coitado, estava perdido com aqueles hormônios da adolescência. Ele sentia vergonha pelo fato d’eu ser mãe-solteira naquela época, lembra? O coitadinho deve ter passado muito constrangimento por minha causa. Quando eu fugi de casa para morar com o Odilon tinha a idade dele também. Ô idade de todo mundo fugir de casa, Ceição! Eliseu nasceu em 45, dois anos depois d’eu ter saído pela janela da casa do papai. Odilon, aquele sem-vergonha, me abandonou em seguida, lembra, Ceição? Minhas mãos tinham feridas de tanto lavar as roupas das madames. Era o único serviço que conseguia fazer sem desgrudar os olhos do menino. Mas Eliseu sempre teve o que comer em casa. Graças a Deus. Não quero mais fazer contas não, Ceição! O importante é que ele voltou, bem no ano em que Maikon Jeckison morreu.
Cara Conceição,
Há quanto tempo não nos falamos! Como está, minha amiga? Geraldo está bem?
Estou te escrevendo porque preciso dividir com alguém tamanha alegria que sinto e me lembrei de você. A letra está tremida porque estou repleta de emoção: meu menino voltou para casa!
Eu levei um susto quando abri a porta e o vi. Como cresceu, Conceição! Ele chegou como essas crianças mesmo que aprontam, sabe?, e ficam com medo de apanhar. Com carinha de pobre-coitado. Pediu logo desculpas e me deu um abraço longo e muito apertado. Sempre soube que ele voltaria. Disse que veio para ficar e nunca mais me abandonar. Eu até agora estou sem acreditar.
Às vezes acordo, penso que foi tudo um sonho. Vou ao quarto dele e o vejo dormindo como um anjo! Eu sabia que Deus estava me ouvindo. Mas, o danado se descobre todo quando dorme, Conceição, acredita? Comprei para ele um pijama de calça e mangas compridas, e quem disse que ele gosta? Qualquer dia acorda resfriado.
Voltei a cozinhar todos os dias, a fazer feira toda semana... Como o meu filhote come, Conceição! Dá até prazer de ver! Essa idade eles precisam mesmo se alimentar muito bem. A tarde ele vai se encontrar com alguns amigos que já fez por aqui pela vizinhança.Eliseu sempre foi de se enturmar fácil desde criança! Mas eu fico preocupada...a gente ouve cada coisa na televisão. Falei para ele trazer os amigos para cá, para eles ficarem jogando aqui, mas acho que eles se sentem meio constrangidos com a minha presença. De qualquer forma, ele nunca volta tarde, pois, sabe que eu só durmo quando ele chega. Como amadureceu meu Eliseu, Conceição.
É, minha amiga, peço a Deus para me dar muita saúde para eu poder cuidar do meu filho. Agora que ele está aqui, esses anos que se passaram, quantos foram, Ceição?, Deus fez parecer visto de agora que foram apenas alguns dias. Isso está me confundindo. Agora, falando com você, fiz as contas... Ele saiu de casa logo depois que a aquela atriz loira e também muito bonita morreu. Lembra dela, Conceição? Mérilin Monrou. Não sei escrever em inglês, amiga. Isso foi em 1962. Eliseu, coitado, estava perdido com aqueles hormônios da adolescência. Ele sentia vergonha pelo fato d’eu ser mãe-solteira naquela época, lembra? O coitadinho deve ter passado muito constrangimento por minha causa. Quando eu fugi de casa para morar com o Odilon tinha a idade dele também. Ô idade de todo mundo fugir de casa, Ceição! Eliseu nasceu em 45, dois anos depois d’eu ter saído pela janela da casa do papai. Odilon, aquele sem-vergonha, me abandonou em seguida, lembra, Ceição? Minhas mãos tinham feridas de tanto lavar as roupas das madames. Era o único serviço que conseguia fazer sem desgrudar os olhos do menino. Mas Eliseu sempre teve o que comer em casa. Graças a Deus. Não quero mais fazer contas não, Ceição! O importante é que ele voltou, bem no ano em que Maikon Jeckison morreu.
Eliseu é assim, Conceição, como eu sempre te disse, quase uma estrela...
Beijos
Bernadete
Beijos
Bernadete