terça-feira, 21 de maio de 2013

NOVO ENDEREÇO

A partir de hoje o Minha Vida é um Blog Aberto está no em novo endereço! 

Só clicar aqui!

Todos os textos antigos estão lá também, ok?



sábado, 18 de maio de 2013

Clic-Clichês


Fotos clichês são ridículas, mas mais ridículo é não tê-las. Os braços cruzados de forma desajeitada no casamento com o cálice na mão, o beijo clássico do pai na barriga da gestante, a foto do primeiro banho que tanto nos envergonham quando adolescentes, a presença do Papai Noel na noite de Natal, o bebê com a boca toda suja de chocolate, duas taças de vinho (meio cheia ou meio vazias?) em cima de uma mesa, o formando de beca, o grupo de amigos fantasiados numa festa à fantasia,.., tudo ridículo. Mas passar pela vida e não tê-las é como vir ao Rio e não ser fotografado perto do Cristo. Mais ridículo ainda. 

E ainda que você diga "dessa máquina não clicarei", uma vez amado, meu amigo, você está condenado a ver o passarinho e, por tabela, ser lugar-comum no álbum da humanidade. Seus passos ridicularmente registrados sem a menor arte. Sem um toque qualquer de criatividade. E você ajudará a perpetuar o previsível porque este quando congelado através da captação de uma lente objetiva faz chacota com o subjetivo, mas dá sentido ao acaso. Ao caos da sua existência. Porque os retratos-chavões são os cartões-postais de uma vida bem vivida, a prova de que existimos e passamos bem por esse planeta tendo o mínimo que justifique tanto esforço do espermatozóide para fecundar o óvulo de nossa mãe. 

São essas ridículas imagens projetadas e que reproduziremos até o Juízo Final as que vamos sentir saudades. Com essas gravuras merecedoras de escárnio em mãos, vamos rir e chorar ao mostrar pros nossos filhos, sobrinhos e netos. 

Pobre daquele que não é ridículo e que não vive o clichê nosso de cada dia...






quinta-feira, 9 de maio de 2013

Caminho de Ogum e Iansã



Neste ano, Nara, minha filhinha de quinze anos passou a estudar em pleno bairro do Maracanã aqui no Rio. Moramos no subúrbio carioca, num bairro que é sorriso é paz e prazer, o seu nome é doce dizer: Madureeeeira, lá, laiá. ♪♫  Isso significa que Nara agora anda de trem e de ônibus todo santo dia (com exceção do dia de São Jorge que é feriado aqui no Rio) e recebe calor humano às seis da manhã de pessoas que nem conhece. 

Nos primeiros dias, nós sempre a acompanhávamos orientando cada detalhe. Nossa bonequinha fofa nunca havia andado de ônibus sozinha e, de repente não mais que de repente, ela precisou fazer esse trajeto sem que ninguém tivesse ao seu lado para defendê-la de qualquer perigo iminente. Isso foi tenso para nós (digo, nós os pais). Mas antes mesmo do que a nossa vã filosofia pudesse imaginar, lá estava Nara completamente independente, livre e solta (ainda que muito apertada) indo e vindo do subúrbio ao centro da cidade, do centro da cidade ao subúrbio de transporte público. Narinha aprendeu novas palavras e agora fala treissincotrês, meioitocinco, treizoitotrês, ramal saracuruna, belforroxo e diodoro com uma desenvoltura de dar gosto. Ainda assim, é sempre um motivo de preocupação ter uma filha linda andando pelo mundo. Ainda mais de trem e ônibus. Fala sério...O que nos acalma é saber que ela segue tooooodas as nossas orientações direitinho.  

Ontem, por exemplo, Nara dormiu na condução e quando acordou, percebeu que estava em um lugar “jamais visto antes”. Daí que os adolescentes de hoje são mega espertos e diante de qualquer problema (!!!) tem a solução sempre na palma da mão.

- Alô, mãe! Mãe! Tipo. Eu estou perdida! Nunca vi isso aqui antes na minha vida! Mãe? 
- ONDE CÊ TÁ, NARA? NARA!!! Onde você está???? – Respondo perguntando com a tensão que meu posto de mãe me confere.
- No ônibus, mãe! – Nara responde como se eu estivesse feito uma pergunta idiota.
- ONDE CÊ TÁ, NARA? NARA!!!EM QUE LUGAR DO RIO? QUE BAIRRO?- Procuro assumir o controle da situação.
- Mãe? Mãe! Você não ouviu eu dizer que estou perdida? Eu não sei onde estou! Faço a menor ideia! – Responde rindo calmamente a minha filha e, pelo seu tom de voz em si menor, eu sabia que ela tinha certeza que eu conseguiria facilmente adivinhar. 
- PERGUNTA PRO TROCADOR!!! – Oriento. Procuro lhe passar calma e segurança. Respira, Elika, respira!
- Mãe! – Nara ri. – Mãe! O meioitocinco não tem trocador! – Nara ri de novo.
- Nara!!!! Tem motorista? – Pergunto didaticamente após sentir que terei que ir com bastante calma.
- Tem! Tem sim! – Nara responde bem feliz.
- Legal. Pergunta pra ele onde você está – disse baixinho - sem que os outros percebam que você está...
- MOTORISTA! MOTORISTAAAAA! ONDE A GENTE TÁ? – Gritou Nara pelo visto para o motorista do outro ônibus.
- Momomumumumumdadadadidisifufot  gugugutoitoibububu  irajá. – ouvi o motorista falando baixinho algo como se estivesse do outro lado da montanha.Estremeci quando entendi a última palavra.
- Mãe! – Nara ri – A gente tá indo pra Irajá! Onde fica Irajá?
- Nara! – cacildis... eu não conheço nada de Irajá...- Nara! 

Eu queria ligar pra minha mãe para pedir ajuda, mas estava com Nara ao telefone... Mega tenso. 

- O que você está vendo na rua? Você já chegou em Irajá??? Me fala o que você está vendo! 
- Mer-ca-dão-de-ma-du-re ... 
- DESCE AGORA! 

 Nara estava em frente ao Mercadão de Madureira, ponto turístico da nossa cidade, e a debilóide que mora ali pertinho há trocentos anos não fazia ideia de onde estava...aff... muito filhinha de mamãe a minha filhinha linda...

- MOTORISTA! EU VOU DESCER! Abre aqui por favor, motorista! Valeu, motorista!... Mãe! E agora?

A gente mora do lado de cá, ou seja, bastava ela subir e descer o viaduto que estabelece a ligação entre as duas vertentes e ela reconheceria a fauna e a flora do local.

- Está vendo um viaduto? – Falei enquanto abria o gúgol mépis.
- Não.
- Anda mais um pouco.
- Tô!
- Então, é só subir e descer. Vou desligar porque pode ser perigoso você andar e falar no celular, tá? Prestenção e é só subir e descer! 

Ufa. 

Desligamos o telefone. 

Cinco minutos e Nara liga de novo.

- Alô, mãe! Mãe! Eu estou em frente ao Império Serrano! – Nara riu.

Nara desceu antes do que deveria. Era para ter seguido por toooooodo o viaduto e ela desceu no meio do caminho! Agora ela estava em pleno coração de um dos grandes centros comerciais do mundo. O maior furdunço do universo! Já estava escurecendo. Eu tinha que ser rápida e ligeira com ela.

- Nara, sai daí, keep walking! – Orientei decidida.
- Mas pra onde? 
- Vai se distanciando de onde você veio.
- Ai, mãe, tô vendo a Belíssima! Nossa! Uma blusa por quatro e noventa e nove?  Mãe! Uma blusa por quatro e noventa e nove! E não é feia não, hein!?
- Isso. Vai! Anda! – De novo abri o gúgol mépis.
- Você está vendo a Sapatella? – perguntei.
- Sapateeeeellaaaa, tô! Ali! 
- Então, vai nessa direção. Quando chegar lá me avisa para eu te orientar.
- Cheguei! E agora?
- Tem bota?
- Tem! Ai, mãe! Lin-da!!!!
- Vê o preço.
- Trezentos e...
- Ok.  Se concentra, filha! Se concentra! Está vendo a Chiffon?
- Tô. Ali em frente! 
- Então, vai andando até ela. 
- Ai que legal! Quanta coisa legal, mãe! E tudo barato! Amanhã você vem comigo? Cheguei na Chiffon.
- Olha a vitrine.
- Mãe! A Chiffon está com a vitrine ótima! Você ia a-mar aquela blusa! Nossa! Quanta coisa legal! – Nara ria de felicidade.
- Ok. Se concentra, filha! Se concentra! Na mesma calçada...você vê a Sonhos dos Pés?
- Vejo.
- Segue na direção.
- Ai, mãe, que legal isso aqui! Sonho dos Pés! Cheguei.
- Tem bota?
- Hmmm xovêêê... Tem!

E assim eu fui orientando a minha filha sem-noção-mega-esperta-alto-astral  a sair de uma forma bem confortável, segura e útil do centrão de Madureeeeeraaaa lálaiá ♪♫. Enquanto eu falava e fazia com que  ela olhasse para tudo em sua volta, eu  também corria com o celular ao seu encontro. Já havia escurecido e o caminho de Ogum e Iansã é sinistraço.

Assim que Nara me viu, sorriu mostrando todo o aparelho cheio de elásticos. Voltamos conversando sobre a dentista e a aula de canto e piano que ela tivera no meio da tarde. 

Nem sentimos necessidade de falar do fato dela ter se perdido. 

Estranho... Algo saiu tão diferente do planejado e ainda assim pareceu ser tão certo...



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O desenho que ilustra esse texto foi feito pelo artista Sergio Ricciuto Conte






quarta-feira, 1 de maio de 2013

Fio... por que quilos?



Tudo evoluiu desde que inventaram a eletricidade. Televisões, aparelhos de CDs e DVDs, caixas de som, ferros de passar roupa, lâmpadas... mas se tem uma coisa que não mudou nada foi o fio. Heloou, seu engenheiro! Dá para se concentrar no nosso problema?

Não importa o aparelho supimpa que você compre e o quão prateado e moderno ele seja. O problema de como esconder os fios permanece. Na rua o que vemos flutuando como se fossem pássaros, agonizando no passeio público e na mão e contramão atrapalhando o tráfego? Eles. Os fios. Você pode sair do interior do nordeste e ir direto para o Japão pleno de suas modernices e bizarrices. Lá estão eles correndo o céu em paralelo e se encontrando (!!!) nos postes onde se misturam sem qualquer cerimônia. Vê se isso é admissível...


Quase dois séculos já se passaram e só o que temos é mais e mais fios pela casa! Até as coisas que funcionam sem fio, como os celulares, os noutebuques, os aipódes e aipédis da vida de nada nos serviriam sem um bom fio ligado na tomada para alimentá-los. A medicina melhorou com o tempo? Vai ter um treco na frente de um médico! Ele vai é te encher de fios! E chapinha de cabelo? Tem de titanium, de íons, de bósons, quarks e o diabo a quatro! Mas de que adianta se os fios continuam atrapalhando os alizamento dos fio? Fala sério! Que evolução é essa? Ainda querem nos enganar pintando-os de vermelho, verde, amarelo... só porque a televisão com suas imagens coloridas é melhor que a preto e branco eles acham que com fio é assim também. Comigo, não, violão!


Vivemos numa ditadura, tá ligado? Estamos presos nesse regime e limitados...até quando, minha gente? Temos que brigar sério, ir para as ruas para  exigir que algum líder político faça alguma coisa! Nada de perder tempo pedindo para aprovar casamento gay porque isso é besteira. Casamento, bem sabem todos os casados, é o ó. Isso é até falta de carinho com os gays. Temos é que pedir para  os governantes o fim desse regime antidemocrático imposto desde o idos de Benjamin Franklin. Temos que ir à luta para que isso entre nos programas de governo e conseguir mais incentivo para as pesquisas sérias. E não dessas bobeiras que não nos servem para nada como descobrir como foi a origem do Universo ou do que é feito a matéria . Pra que perder tempo com isso? Precisamos é de pesquisas sobre essa porcaria de matéria criada e não evoluída: o fio.




segunda-feira, 22 de abril de 2013

Todo Mundo em Seu Devido Lugar



Estava escrevendo a minha tese que dentre outras coisas mostra como a visão aristotélica do funcionamento e da organização do Universo foi derrotada e peguei-me pensando sobre o meu lugar nesse budega toda... 

Em breves palavras que serão suficientes para que vocês entendam Aristóteles e Elika, o filósofo grego  acreditava que tudo no Universo possuía um lugar natural. Os movimentos terrestres obedeceriam a leis teleológicas, cada corpo devendo ocupar uma posição privilegiada onde ficaria em repouso. Se resolvermos tirar qualquer objeto do repouso teremos que aplicar uma “força” sobre ele e cessada a aplicação desta “força”, ele buscará novamente sua imobilidade. Fora do seu lugar natural, o corpo é “ser em potência”, dizia Aristóteles, e só é ser atual em seu lugar natural, onde fica paradim, por não haver necessidade de mover-se. Daí que veio Galileu, Descartes, Huyghens e Newton e mostrou que tudo isso não passava de um grande equívoco. Movimento pode existir sem que nenhuma força atue no corpo e essa parada de ‘lugar natural’ não se sustenta, pois o repouso e o seu contrário, o movimento, são relativos. Bah. E eu não sei onde fica o meu lugar? 

Comecemos quando aprendemos a falar e a andar sozinhos. Qual foi a primeira coisa que nossos pais nos ensinaram  caso nos perdêssemos ou fôssemos sequestrados e conseguíssemos fugir? Se nos perguntassem de onde somos, nós  tínhamos que responder onde nascemos e onde moramos porque era pra lá que deveríamos voltar. E, de fato, mesmo que não sejamos sequestrados e traficados, basta uma viagem para sabermos que não estamos em nossa casa. O melhor da viagem, como todos os viajados mais descolados afirmam, é a volta. Porque nada se compara à sensação de abrirmos a porta do nosso lar, o nosso lugar preferido.

Na casa de meus pais, e acredito que em todas as “casas de família” sejam assim, cada um tinha o seu lugar na mesa. O meu, por exemplo, era perto da geladeira e disso me lembro muito bem porque não tinha paz na hora das nossas refeições. Pega o ketchup? Pega a manteiga? Pega a água? Pega... aff. Que saco. Mas pelo menos não ficava de costas para a porta como a minha irmã mais velha e perto da cozinha como o papai que tinha que se levantar toda hora para pegar um garfo, um prato e tudo o mais que se tem em uma cozinha. Mamãe ficava de costas para a televisão e todos gritavam para ela sair da frente de forma que o lugar dela era espremido ao lado da Tata, a que ficava de costas para a porta, ou ao meu lado, o que era bom porque quando me pediam algo era ela quem pegava. Tony sentava-se ao lado do papai e também ficava de frente para a televisão reclamando de mamãe não ser transparente. Lyli quando nasceu ocupou o lugar da Ta que foi morar em Florianópolis e quando todos estamos juntos a configuração tende a se repetir. Fato é que nunca saberemos como os nossos lugares foram definidos. Sabíamos simplesmente disso e nunca sequer nos passou pela cabeça mexer com a ordem do cosmos-copa-cozinha. O arranjo foi acontecendo naturalmente, tal como dizia Aristóteles.

Daí que vem a escola. Quando éramos pequenininhos a tia definia os nossos lugares e se fôssemos mal em nota, a primeira atitude da tia era nos mudar de lugar. Ela havia errado ao forçar uma determinada arrumação e é isso o que acontece quando tiramos uma peça do seu lugar natural no Universo. Ela sofre. Padece.

Quando adolescentes a coisa era bem mais democrática. Com uma semana de aula, depois de algumas variações, a turma chegava a uma disposição que durava o ano todo. Havia o pessoal nerd, ou como dizia-se no meu tempo: CDF, que sentava lá na frente babando ovo do professor. Havia o pessoal da esquerda e da direita com filosofias de vida completamente diferentes e que se misturavam quando bem interessasse a ambas as partes, tal como acontece na política. Havia a galera do fundão, helooou! euzinha aqui, que era da bandidági e sabia bem melhor o que vem a ser a tal da ‘cumplicidade’. Se, por alguma medida disciplinar, a configuração adquirida de forma natural da turma fosse alterada, alguns de nós entrávamos em depressão. Por que toda e qualquer pessoa se adapta bem a uma parametrização dentro de uma sala de aula? Freud não saberia responder, psicólogos e sociólogos tentaram, mas Aristóteles já tinha a resposta mesmo que em sua época não houvesse salas de aula.

Ainda na escola, o primeiro lugar nunca me pertenceu. Também nunca fui de ficar em último. O meu lugar era, como dizia o diretor, na mérdia, lugar esse muito interessante por sinal e do qual muito me orgulho até hoje, pois não era conhecida pelas minhas notas e sim pelo o que dizia, fazendo juz ao nome da classe em que o diretor me colocava.

Quer se sentir perdido e sem saber o que falar e o que fazer? É quando uma pessoa amiga nos pergunta o que faríamos em ‘seu’ lugar. Ao nos colocarmos realmente em um lugar que não seja o nosso, não sabemos como agir. Tudo bem que no nosso cafofo natural também temos muitas dúvidas de como devemos nos comportar, mas elas pioram, aumentam exponencialmente! quando transladamos de forma forçada por nos imaginarmos em um lugar que não seja o marcado pelo nosso nome e sobrenome.

Some-se a tudo isso quantas vezes ouvimos e falamos “vá já para o seu lugar!”, “Ponha-se no seu lugar!”. E ainda, quando vemos uma pessoa triste, deprimida... dizemos logo que ela ainda não se encontrou e se esse infeliz ser é nosso amigo, procuramos descobrir com ele o seu lugar nesse mundo.

Então, seu Newton, a sua teoria de Gravitação Universal foi muito bacana, há uma só lei para explicar os movimentos terrestres e os celestes, ok, muito bonito. Mas erraste feio quando nos deixou vagando sem destino pelo mundo ao descartar  em sua totalidade a teoria do ‘lugar natural’ proposto pelo sábio Aristóteles. O filósofo grego, se pensarmos bem, pode ter errado em algumas coisas sobre o movimento dos objetos inanimados, vá lá... mas, definitivamente, todos nós temos e sabemos qual é o nosso lugar nesse imenso Universo. Ao lado da pessoa amada, no palco, numa mesa de bar, em uma sala de aula, numa biblioteca, de frente pro mar, na cozinha, no Rio de Janeiro, em Madureira,... sentimos, ainda que não saibamos explicar,  quando somos cem por cento nós mesmos e não um ser simplesmente em potencial. Quando todo o nosso cosmos está em equilíbrio.

Sabemos quando estamos em casa.


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O desenho que ilustra essa postagem foi feito pelo artista Sergio Ricciuto Conte especialmente para esse texto, ainda que ele não saiba disso.







quinta-feira, 18 de abril de 2013

Meu Adorável Galanteador




Há algum tempo ando com problema de postura, sentindo umas dores na coluna e evitando o salto alto. Para mim, que tenho metro e meio de altura isso corresponde a  dizer adeus à elegância, ao charme, ao frescor da manhã que só um calcanhar bem levantado faz a gente sentir em pleno final de tarde... A auto-estima fica do meu tamanho quando calço uma rasteirinha. Bah! Ainda que não possa reclamar do amor que recebo do meu marido, o que joga mesmo uma mulher pra cima é um  assobio dado com vontade de um homem desconhecido. Se forem vários, tanto melhor. E eu nunca mais ouvi nem um sibilinho sequer  depois que aposentei os saltinhos...

Mas hoje, vejam vocês, fui abastecer o carro e me deu vontade de comprar bananada na lojinha do posto. Eu e minha sandália, ambas mega sem-graça, fomos até ali enquanto o carro recebia os cuidados do frentista.

Quando estava me aproximando da lojinha, ouvi fiu fiiiuuuuu! Ãhn? Jura? Mas não foi um fiu fiu sem graça não, meu povo. Foi aquele com vontade, sabe?, esses que dão pras mulatas boazudas!

Caraca! Será?!? Fiquei ali. Estática. Paradona de tanta esperança. Daí, respirei fundo e dei um outro passo. E fiu fiiiuuuuu de novo!!! Ah que legal... E de rasteirinha, hein?!? Tô podendo...Meu coração saltitava.  Queria olhar. Pouco me importava se o meu admirador era bonito ou feio. Tô nem aí. Mas queria olhar e dar um sorrisinho tipo de gostosa-meiga-pura agradecendo, sabe? Parei de novo. Inspirei o ar. Mexi no cabelo... Virei graciosamente e lentamente para curtir o momento. Olhei em volta.

Nada.

O frentista lá longe lavando o vidro da frente do takimóvel. E na lojinha, o caixa mascando chiclete com  fones no ouvido vendo televisão. Onde está o meu adorável galanteador?

Mais um passo e fiu fiiiuuuuu de novo. Fui andando devagar meio feliz meio curiosa. Rindo dele estar se escondendo...deve ser um pedreiro consertando o telhado. Fiu fiiiuuuuu!!! Que delícia...

Foi quando percebi que eu estava era me aproximando de um macaco de brinquedo de 20 centímetros que ficava pendurado na entrada da lojinha... Fala sério! Pode isso, Arnaldo????

Quase enfiei a bananada no buraco da boca daquele primata sem coração.


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terça-feira, 16 de abril de 2013

Diário de Viagem. 3º dia no Chile

Para ver as fotos com mais nitidez basta clicar em cima delas, ok?

Tiramos o terceiro dia para conhecer Valparaíso. Pegamos um ônibus, ficamos uma hora e meia dentro dele e soltamos na rodoviária. Lá chegando, havia vááárias pessoas de agências de turismo nos oferecendo passeios, mas se você leu as postagens anteriores já sabe que não gostamos de ser guiados. O que curtimos é camelar, andar, pedalar e descobrir esquinas, vilas e buracos novos que nem os guias sabem que existem. Valparaíso por guias de viagem se conhece em duas horas. Passamos o dia inteiro ali e achei que foi pouco. O lugar tem uma personalidade e tanto.

À primeira vista, a cidade assusta. O lugar é caótico, cheio de prédios caindo aos pedaços, feiras barulhentas, fedorentas...


Mas logo logo a magia começa a aparecer. Valparaíso é uma cidade portuária e nos reserva grandes surpresas para quem tem paciência de desvendar os seus segredos e de entender como aquilo ali se tornou Patrimônio da Humanidade, aquele título dado pela Unesco para cidades charmosas. 

Primeiramente, eu queria ver o Pacífico. Esse momento, apesar de ter visto o mar centenas de vezes, foi para mim muito especial por esses motivos que a gente não consegue explicar e que são revelados pelo silêncio que fazemos quando no deparamos com algo surpreendente. 

Ok. Não vou mentir. Não sou mulher dada aos silêncios. Gritei e pulei de alegria! Nelso, o Pacífico! O Pacífico, Nelso! Nelso!!!!! As focas!!!!! Tira uma foto aqui, Nelso!!!!!


Eu tirei uma foto panorâmica com a minha maquineta para tentar captar a ideia do que vem a ser Valparaíso visto do porto.


Vejam vocês os cerros (morros) ali atrás. Valparaíso é formado por 45 cerros, cada um tem uma visão particular e seus encantos. Há funiculares centenários, um tipo de trem da época medieval, sabe?, para subir e descer de cada um desses morros. As ruas ali são estreitas e, meodeos, como são cheias de beleza... Um convite para andar o dia inteiro! Mas antes de tudo, quer dizer, logo depois de vermos o Pacífico e foca feliz sem que precisássemos ♫♪ por uma bola em seu nariz ♫♪, queríamos conhecer a 'outra' casa de Neruda: a La Sebastiana

No primeiro dia de viagem visitamos a La Chascona, uma das três casas do poeta que fica em Santiago e toda a minha péssima impressão foi registrada quando narrei a nossa visita aqui. Para conhecer La Sebastiana tivemos que pegar um ônibus  hiper maneiro porque a casa fica beeeeeeeem lá no alto do Cerro que já me esqueci o nome.


Estava na esperança de mudar de opinião sobre Neruda, mas qual o quê. A casa dele em Valparaíso é mil vezes pior do que a La Chascona! As fotos do interior da casa eu peguei dos zoto porque dessa vez eles avisaram com placas com um xizão vermelho em cima de uma máquina fotográfica a maneira que deveríamos nos comportar. Dessa vez nem deu para fingir que não entendi a língua.


Essa casa foi muito mais nauseante do que a de Santiago. Mas só indo lá para entender o que estou falando e se dar conta do que vem a ser os lares excêntricos de Neruda e da paradoxal falta de poesia em vários cantos daqueles labirintos. Tirei foto do lado de fora e da paisagem que se vê dali. A vista, como de qualquer cerro de Valparaíso, é  show de bola em jogo de vôlei no maracanazinho.




Saindo de lá e seguindo as dicas do blog "Viagem na Viagem" fomos fazer o que fazemos de melhor quando viajamos: bater perna. E daí, aquilo que disse lá em cima, ou seja, que Valpo nos reserva grandes surpresas rapidim elas foram se revelando. A cada passada, a cada virada de esquina um tipo de mágica acontecia. No Cerro Alegre e no Cerro Concepción, onde só os turistas mais bacanas se aventuram, estão espalhadas as mais bem-conservadas casas coloridas de zinco e que foram tombadas como patrimônio da humanidade pela Unesco. 


É tipo o Caminito de Buenos Aires só que muito maior e com gente morando neles! 


Piramos com essas casas feitas com placas de zinco coloridas, com as cores por todos os lados. Muuuuuito legal. Cada canto dava vontade de fotografar, mas acho que juntando essa seleção aí em cima com a outra aí embaixo dá para ter uma noção da vivacidade de Valparaíso.


Parada para o almoço no Cocina Puerto. O restaurante é elengantééééérrimo e todo feito de lixo dozoto. Não havia uma cadeira igual a outra e as mesas eram feitas de portas de janelas e estrados velhos de cama. Por incrível que pareça, giga charmoso. Interessante como a beleza emerge de determinadas combinações, não?


E dá-lhe bater pernas e ver coisa legal!



Lá em cima de um cerro que me esqueci qual é tem o Museu de Belas Artes (esse casarão branco bonito da sequência de fotos acima) e era muito comum andar por aquelas ruas e se deparar com artistas tentando capturar parte daquela paisagem (foto das duas meninas). As placas das vias de evacuação (como mostrada numa foto aí em cima) quando estávamos lá embaixo para caso surgisse um tsunami davam uma tensão em toda aquela tranquilidade. A gente aqui no Brasil não está acostumado a intempéries desse tipo, a despeito das enchentes na Praça da Bandeira. Mas sabem cumé, tsunami é tsunami e o Pacífico estava sempre logo ali como um gigante adormecido podendo se desfazer da passividade a qualquer momento.

Descemos neste funicular:


E lá embaixo, mais uma vez, vimos taaaantas coisas legais.




E depois, subimos de novo para visitar o Museu Naval! Nesse museu está a cápsula dos mineiros que foram resgatados em 2010 se não me engano. Eu não tirei foto porque não podia. Uma pena.

Mentira. Na verdade eu não vi cápsula nenhuma. Chegando no museu, Nelson foi para um lado e eu para o outro e no final nos encontramos e ele perguntou: Viu a cápsula dos mineiros que maneiro?!?!!! Damn it!!!! Não. Mas vi outras coisas bacanas... ungf. Vi mísseis, quadros, maquete de barquinhos, muuuitos quadros tá ligado? e vitrais maneiraços! Bem mais legal que ver cápsula, ok? ungf.


Eu vi um homem super importante tipo Almirante assinando um documento mega  fundamental para o destino do planeta Terra no Universo. Posso estar fantasiando umas coisas, mas ó, o evento estava sendo fotografado e filmado por repórteres do mundo inteiro do Chile, o que me fez pensar que o destino do planeta estava sendo resolvido ali e eu estava presenciando tudo aquilo. Um evento dessa magnitude tornou a minha viagem ainda mais super espetacular! Eu vi um evento histórico, valeu? Só não pergunte qual foi porque era um acordo ultra secreto e eu não posso contar nem sob tortura. Nelson quis mostrar que também viu o Almirante X assinar uma conciliação entre a Holanda e o Chile (só podia ser isso, não?). Daí, me fez o favor de ficar ao lado do Capitão de Mar e Guerra de dois metros e olhos azuis cheio de medalha no uniforme não sem antes me pedir: Eka, bate uma foto minha ali. Eu resisti e ele insistiu. Está aí a foto onde Nelson parece um sub-sub-sub marinheiro de corveta. Aff...




Saindo de lá, mirantes, artistas de rua, feirinhas (oooobaaaaaaaaa!!!!) e mais do paraíso que é Valp. Comprei esse cachecol (e mais um para minha irmã que é jovem há mais tempo do que eu) que vai me acompanhar por mais fotos (juntamente com o meu chapéuzinho bege que foi comprado no dia anterior).


E temos que descer para ir embora. Aaaahhhhhhh que pena ir embora dali... queria não. Desceremos de funicular ou andando? Andando para não acelerar o que já é tão efêmero.



Paradinha na Plaza Sotomayor para Nelson se achar e eu  injetar um pouco de cafeína no cérebro.



Agora vejam que interessante essa Plaza: não há calçadas, sinais, placas... e por incrível que pareça, muuuuito movimento de carros, pessoas, bicicletas, ônibus... tudo assim junto e misturado! Mega interessante, não? Como ninguém morre? Como??? O pouquinho que paramos para descansar vimos tantos encontros e despedidas sem o menor temor de um possível atropelamento. Fala sério...

Hora de ir embora. Pegamos um trem até uma estação próxima do terminal de ônibus para voltarmos para Santiago. Estávamos muertos de tanto andar. Não resistimos, porém, ver o pôr do Sol no Pacífico.



Valparaíso. Esse foi definitivamente o lugar com mais personalidade de todos que eu já visitei.