Nós já éramos frequentadores assíduos daquela magnífica roda de samba quinzenal da Rua Ouvidor. A voz monumental de Gabriel Cavalcante que não só nos embala, mas também nos ensina ao cantar sambas que foram registrados em gravações raríssimas da história de nossa música é simplesmente imperdível. Lá estávamos, religiosamente, fazendo parte daquele belíssimo quadro pintado durante dois anos sempre pelos mesmos músicos, amigos, bêbados e turistas de todos os lugares do mundo.
Por motivo de força maior, a roda girou um pouco e mudou de endereço. No dia seis de fevereiro, sábado passado, passou a alegrar a simpática Rua do Mercado, esquina com a bela Ouvidor. Novos bares, novos restaurantes e os mesmos amigos de sempre. Quer dizer, havia um espectador novo, profissional de nascença e de ouvido acuradíssimo que tudo via e ouvia de um certo ângulo ímpar devido à sua própria espécie.
Os músicos estavam bem embaixo de uma amendoeira e um sabiá acompanhava todo o movimento da janela do prédio em frente. De vez em quando sobrevoava a amendoeira e voltava para a sacada. Eu já o havia notado, mas pensei que fosse uma rolinha (o que não mudava em quase nada a delicadeza da cena). Bete, nossa amiga bióloga e meio metida a “ornitorrinca” como disse Luís Manuel, afirmou que o passarinho certamente estava com um ninho na árvore e receoso pelos filhotes. O primeiro a identificá-lo como sabiá foi o nosso amigo Perereca que ganhou esse apelido devido às suas habilidades de pular como a tal. Baseada na certeza acintosa de Perereca, recusei-me, por filosofia de vida, a acreditar que o pássaro imortalizado por Gonçalves Dias estivesse incomodado com o coro alegre e uníssono que vinha da rua.
Hoje de manhã consultei o gúgol, o pai virtual dos ignorantes, e descobri que o sabiá se juntou oficialmente aos quatro outros símbolos nacionais - a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, tendo a mesma importância deles na representação do nosso país. Ele foi escolhido não pela sua beleza que é superada facilmente pelo Tucano ou por outros que tem até coloração verde e amarela em suas penas, nem tão pouco foi escolhido pelo seu canto, como pensariam alguns. O canto do sabiá, afirmam os ornitólogos, é facilmente influenciado por pássaros de outras espécies e por isso dizem, agora veja, que ele até tem um canto imperfeito! Por que, então, ele foi o predileto? Para ser um símbolo-vivo tem que ter um certo quê de popularidade e ele está ricamente presente na nossa literatura, nas nossas músicas e nas nossas poesias. Além disso, eles realmente permitem proximidade com o povo seja das cidades ou dos campos.
Era isso. Eu estava certa quando sublimei a teoria de minha amiga Bete. O passarinho não estava triste. Ele estava realmente participando daquele movimento cultural e se deixando influenciar pela voz de Gabriel, fazendo jus ao título que lhe concederam. E eu acreditando, cegamente, mais uma vez na beleza do quadro, ando contando para todo mundo que cantamos e sambamos na presença voluntária de um sabiá.
Por motivo de força maior, a roda girou um pouco e mudou de endereço. No dia seis de fevereiro, sábado passado, passou a alegrar a simpática Rua do Mercado, esquina com a bela Ouvidor. Novos bares, novos restaurantes e os mesmos amigos de sempre. Quer dizer, havia um espectador novo, profissional de nascença e de ouvido acuradíssimo que tudo via e ouvia de um certo ângulo ímpar devido à sua própria espécie.
Os músicos estavam bem embaixo de uma amendoeira e um sabiá acompanhava todo o movimento da janela do prédio em frente. De vez em quando sobrevoava a amendoeira e voltava para a sacada. Eu já o havia notado, mas pensei que fosse uma rolinha (o que não mudava em quase nada a delicadeza da cena). Bete, nossa amiga bióloga e meio metida a “ornitorrinca” como disse Luís Manuel, afirmou que o passarinho certamente estava com um ninho na árvore e receoso pelos filhotes. O primeiro a identificá-lo como sabiá foi o nosso amigo Perereca que ganhou esse apelido devido às suas habilidades de pular como a tal. Baseada na certeza acintosa de Perereca, recusei-me, por filosofia de vida, a acreditar que o pássaro imortalizado por Gonçalves Dias estivesse incomodado com o coro alegre e uníssono que vinha da rua.
Hoje de manhã consultei o gúgol, o pai virtual dos ignorantes, e descobri que o sabiá se juntou oficialmente aos quatro outros símbolos nacionais - a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, tendo a mesma importância deles na representação do nosso país. Ele foi escolhido não pela sua beleza que é superada facilmente pelo Tucano ou por outros que tem até coloração verde e amarela em suas penas, nem tão pouco foi escolhido pelo seu canto, como pensariam alguns. O canto do sabiá, afirmam os ornitólogos, é facilmente influenciado por pássaros de outras espécies e por isso dizem, agora veja, que ele até tem um canto imperfeito! Por que, então, ele foi o predileto? Para ser um símbolo-vivo tem que ter um certo quê de popularidade e ele está ricamente presente na nossa literatura, nas nossas músicas e nas nossas poesias. Além disso, eles realmente permitem proximidade com o povo seja das cidades ou dos campos.
Era isso. Eu estava certa quando sublimei a teoria de minha amiga Bete. O passarinho não estava triste. Ele estava realmente participando daquele movimento cultural e se deixando influenciar pela voz de Gabriel, fazendo jus ao título que lhe concederam. E eu acreditando, cegamente, mais uma vez na beleza do quadro, ando contando para todo mundo que cantamos e sambamos na presença voluntária de um sabiá.