
Não há o que fazer no meu caso. Boa alimentação, estudar uma outra língua, ler e fazer exercícios físicos regularmente é o que aconselham. Isso tudo eu já faço, levando em conta a minha definição de regularmente: uma vez por mês. E mesmo assim, ando esquecendo, por exemplo, de fechar a porta do carro com a chave. Outro dia lembrei de fechar, mas esqueci a chave pendurada bem na porta. Ontem, levantei-me rápido do computador por lembrar de que tinha algo importante a fazer. Entrei no banheiro, olhei-me no espelho, notei que não havia passado o fio dental, passei o fio dental e voltei pro computador. Minutos depois... pus-me de pé ligeiramente de novo, assustada, ao certificar-me da mesma coisa que me fez sair da cadeira num passado pouquíssimo remoto e de que não tinha absolutamente nenhuma ligação com passar o diabo do fio dental.
O interessante é que, na contramão, tenho me lembrado de outras coisas assim do nada. Posso estar escrevendo, dirigindo, nas aulas de filosofia, no supermercado e de uma hora para outra...pronto. Pego-me rindo ou chorando sozinha devido a uma breve recordação de algum episódio visto, vivido ou ouvido que vem do além direto para a minha cabeça. Coisas bem nada a ver mesmo, como essas:
- Fafá de Belém cantando o Hino Nacional no Fantástico quando Tancredo Neves que foi eleito presidente morreu antes mesmo de se apresentar aos brasileiros como tal. A cantora que fez jus ao título de intérprete emocionou a todos que ouviram o hino ser cantado como ninguém cantou antes. Por isso foi processada na época, mas não importa. Foi lindo. E eu não me esqueci. Outro dia, fechei os olhos tentando me lembrar do nome do pedreiro que esteve aqui em casa e nesse mesmo instante comecei a ouvir a Fafá. Oooouuuu...viram do Ipiraaaanga as margens plááááááááciiidas. Assim, de repente. Fiquei toda arrepiada, com cara de boba, abri os olhos devagarinho e disse de sopetão em voz alta: Gelson!
- Quando era adolescente fui à Minas passar férias em Itajubá, terra natal de mamãe, com meu namorado (que hoje é meu marido) e alguns amigos. Ficamos na casa da madrinha de minha irmã mais velha, amicíssima de mamãe desde quando eram crianças. Nelson havia saído de bicicleta sozinho. Ficou um tempão fora e voltou pedalando com dificuldade por estar com um braço segurando o guidão e o outro, um quadro enorme. Ficamos curiosos para ver que quadro era aquele. Depois de tanto mistério, ele tirou o papel que protegia a imagem e mostrou pra gente super animado o quadro recém adquirido. E então, gostaram? Lú, nossa amiga, disse que havia adorado, mas fez uma observação: Não sabia, Neca, que você gostava do Sílvio Brito! O quadro, na verdade, era uma pintura super mal feita de John Lennon. Tudo bem que os dois são meio parecidos, mas não importa, o quadro foi vendido e comprado como sendo uma imagem do ex-beatle. A cara do Nelson ao olhar para a da Lú sorrindo para o quadro ... Vira e mexe eu tenho me lembrado dela assim do nada e caido na gargalhada sozinha. Outro dia foi na fila do supermercado. Um moço até olhou para mim procurando, inutilmente, a graça. Em tempo, o quadro nunca foi pendurado em lugar nenhum.
- O cheiro, exatamente, o cheiro da sala dos meus avós nas tardes de sábado. Mais precisamente quando vovô tocava bandolim e tio Sebastião violão, sentados no sofá (Eles deviam fazer isso de segunda à sexta também, mas eu só os via nos finais de semana). Eles passavam horas tocando. O som era muito agradável, ver os dois tocando e se divertindo era um deleite, mas o aroma sempre presente naquela cena ... Puxa vida, tem me causado dores e produzido lágrimas assim...do nada. Quarta-feira passada, na UERJ, entrei no elevador super bem e foi só apertar o nono que senti o cheiro sem quê nem por quê. Cheguei lá em cima malmalmal de tanta saudade.
- Cenas do filme “A Noviça Rebelde” agora tem me perseguido. “Vejo”, quase todo dia, Julie Andrews ora ensaiando as crianças para cantarem quando o pai delas chegasse de viagem, ora correndo e girando em torno de si mesma de braços abertos nas montanhas da Áustria, ora ensinando uma música que nos faz perder o medo (seja lá do que for) quando a cantamos ... essas cenas tem vindo à minha mente de uns tempos pra cá quando eu tomo banho. Agora é assim. De vez em quando, eu e The Sounds of Music nos amalgamamos debaixo do chuveiro.
- Glória Pires, no papel de Ana Terra, cavalgando na minissérie "O Tempo e O Vento" exibida na Rede Globo, baseada na obra homônima de Érico Veríssimo. Da história mesmo, lembro-me de pouca coisa, quase nada. Sei que se passava no Rio Grande do Sul e olhe lá. Lembrei-me exatamente da Ana em cima de um cavalo com os cabelos balançando e sendo penteados pelo vento quando entrei na Presidente Vargas outro dia e vi todos os sinais abertos. Verdes para mim. Todos eles! Acelerei o máximo que pude e nesse momento, sabe deus por quê, desliguei o ar, abri os vidros e de repente... eu era a Ana Terra em cima de um cavalo, sorrindo à toa, mas com os cabelos todos nos olhos e na boca.
Vai entender...
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E para quem nunca viu nem ouviu falar...com vocês: Sílvio Brito!
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E para quem nunca viu nem ouviu falar...com vocês: Sílvio Brito!
Argh!