sábado, 13 de agosto de 2011

Sistema Nãovounicano



Uma das situações mais incômodas no que tange à convivência social é quando alguém nos convida para algum evento cujo qual não temos o menor interesse em participar. Nessas horas surgem as famosas desculpas esfarrapadas que nem sempre surtem um bom efeito. Às vezes elas não convencem e acabamos por magoar quem nos considerou a ponto de nos convidar seja lá para o que for.

Lendo o livro O Homem e o Universo de Arthur Koestler, agora vejam, descobri uma carta escrita por Copérnico, aquele que disse que o centro do sistema solar não era a Terra e sim o Sol. O criador do sistema heliocêntrico, lá pelos idos de 1500 e tal, recusou dezesseis vezes o convite de um bispo chamado Dantisco para visitá-lo em seu Castelo de Loebau. Em todas as ocasiões nas quais a resposta foi negativa, Copérnico discorreu de forma que o anfitrião, apesar de suas recusas, não se sentisse mal. Ao ler algumas dessas cartas, cheguei à conclusão de que Copérnico não foi mestre só no quesito astronomia. Não acredito que tenha havido na história outro ser que dissesse "não" com tanta elegância e enrolação.

Segue uma  das cartas para a vossa apreciação e vosso aprendizado:

Recebi a carta de Vossa Reverendíssima e bem compreendo o favor e a boa vontade de V.Senhoria, que teve a condescendência de estender não somente a mim, senão também a outros varões de grande excelência. Creio que não deve certamente ser atribuído aos meus méritos, mas à  conhecida bondade de Vossa Reverendíssima. Praza a Deus ser-me possível, um dia, merecer essas coisas. Rejubilo-me, indiscutivelmente, mais do que se pode dizer, de haver encontrado tal senhor e patrono. Contudo, no que tange ao convite de Vossa Reverendíssima Senhoria para que eu a visite em 20 deste mês (o que faria da melhor boa vontade, tendo motivos inúmeros para visitar tão grande amigo e protetor), a má sorte mo impede, pois em tal ocasião vários negócios e necessárias circunstâncias obrigam a mim a permanecer neste lugar. Por conseguinte, solicito de Vossa Reverendíssima Senhoria não tome a mal a minha ausência naquela oportunidade. Suplico seja a minha ausência tomada por bem e que Vossa Reverendíssima Senhoria reserve a velha opinião a meu respeito, embora eu esteja ausente, pois a união de almas é superior à união de corpo. Noutros respeitos, prontifico-me, como me cabe, a satisfazer Vossa Reverendíssima Senhoria, uma vez que o dever me obriga a fazer outras inúmeras coisas, na maneira pela qual Vossa Reverendíssima Senhoria houver por bem indicar-me, noutra ocasião, o que deseja. Confesso que não estou obrigado a satisfazer-lhe as solicitações, senão obedecer-lhe as ordens.”

Grande mestre...

Aos meus queridos leitores, em toda a felicidade, recomendo os meus humildes deveres e desejo-vos perpétua boa saúde.



4 comentários:

  1. nossa... mas q fora bem dado ein... shaushaushuahsuashu
    mt bom!!!
    bjs do seu aluno/fã
    Vinícius ;)

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  2. Procê vê...o cara revela verdades universais e consegue esconder as mundanas...

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  3. Depois de dezesseis recusas, a carta seria até mesmo desnecessária. Qualquer bispo (do Rei ou da Rainha) poderia desconfiar que algo estava ocorrendo. De qualquer maneira a carta é um exemplo de como recusar algo, sem dizer explicitamente isso. Digna do instituto Rio Branco. É um ótimo exemplo, gostei do nome da ciência. Parabéns. Beijos.

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  4. Ainda bem que o cara gostava de escrever... se tentasse resumir sairia algo assim:

    "Obrigado pelo convite, mas tenho mais o que fazer.Copérnico"

    AC

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