segunda-feira, 5 de março de 2012

Ah, eu queria tanto...


Eu queria postar algo tão engraçado no facebook que aquele meu amigo que está sozinho do outro lado naquele seu mundo cinza quando lesse a minha postagem risse, mas risse tanto que chegasse a chorar e  que ele mesmo ficasse admirado ouvindo sua gostosa gargalhada, e depois falasse para si próprio “meodeos, que coisa mais engraçada!”.  E, então, ele esquecesse um pouco da tristeza e fosse contar a minha historinha para a empregada. Ah, que minha história fosse como uma banana-split, irresistivelmente doce, colorida e tão bonita (que tem gente que até fotografa antes de comer) que depois de  prová-la, a vida de meu amigo tão recolhida, encarcerada e enuviada viraria pelo avesso. 

E que um marido que estivesse em casa mal-humorado, aborrecido com a mulher... que ele também fosse atingido pela minha postagem. O marido veria a minha “atualização”, leria e começaria a rir alto. A esposa, em outro cômodo, sorriria pensando que o seu amor finalmente compreendeu que tudo aquilo era uma grande bobagem. E ele a chamasse para mostrar a tela do computador onde tivesse algo de minha autoria. Ela inicialmente decepcionada pensaria em voltar para o quarto, mas ao dar as costas mudaria de ideia ao ouvir o som das risadas de seu marido. E que ficassem os dois rindo mais um pouco, e ao ouvir o riso do outro se lembrassem, então, dos tempos em que se apaixonaram quando riam sempre bem alto e tão juntos, e recuperassem os dois a alegria que o cotidiano cisma em tirar da gente.

Que o tempo que não passa nas salas de espera fosse insuficiente para o paciente mostrar a todos, que também estivessem impacientes, o que eu havia postado. Que uma mãe, aborrecida com seu filho o liberasse do castigo e lhe dissesse “por favor, se comporte! Eu te amo!” depois de ter lido a minha história super engraçada e o filho se comportasse porque queria ver a mãe alegre para sempre. Que no metrô lotado a minha postagem servisse para fazer do desconhecido, que te espreme e te incomoda, um novo amigo, pois ele não conseguiria não rir alto ao ver, pelo seu ombro, o que eu havia colocado no facebook, e sempre que vocês se encontrassem de novo caíssem na gargalhada só de lembrar como a amizade começou. Que as dores crônicas fossem curadas de tanta endorfina liberada ao verem o que eu fiz. Que os pastores, fascinados pela graça de minha obra, respeitassem seu rebanho. Que os patrões tratassem melhor seus empregados, que mais livros fossem abertos, que as farmácias falissem e as favelas fossem pacificadas porque todos que rissem muito lavariam sua consciência com as lágrimas de alegria que a minha postagem proporcionaria.

E que ao ser tão compartilhada, a minha atualização de status fosse traduzida por tradutores on lines diversos para línguas que nem sabemos que existem. Que um árabe qualquer arrancasse a burca de sua esposa só para conferir o seu sorriso quando ele lhe contasse o que alguém no Brasil escreveu. Que o frio da Alemanha e dos alemães fosse minimizado e mais cervejas fossem tomadas em uma alegre homenagem à besteira que eu havia inventado.

E quando me perguntassem por que eu escrevi aquilo eu desconversaria para esconder a triste verdade: que passei horas matutando uma forma de rapidamente reverter o desalento daquele amigo que anda compartilhando músicas lentas demais, fotos estranhas, que não consegue curtir mais nada e não se anima nem mais com as sextas-feiras...




23 comentários:

  1. Isso precisa ser transformado em livro (não é a 50ª vez que digo os mesmo). Insistirei. Um dia eu consigo.

    Nem sempre perdemos tempo no FB. Não fosse ele, como eu teria vindo aqui :)))?

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  2. Ô, meu amigo, se soubesses como dou piruetas de alegria quando recebo um elogio teu... mentirias mais para mim.

    =)

    Grande beijo, Paulo!

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  3. Elika, seus textos sempre me proporcionam alegrias semelhantes àquelas descritas neste conto. E são textos que eu sempre tenho orgulho de compartilhar com os meus amigos(virtuais ou não) como sendo o texto da minha inspirada professora. Não sei o porquê mas este texto, em particular, me tocou profundamente. Continue escrevendo e fazendo a alegria de todos os seus fãs. Seu eterno aluno, Thiago Michel.

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    1. Thiago,

      Fiquei muito feliz com esse seu comentário porque nem sabia que meus textos eram lidos sempre por você.

      Quando a leitura emociona isso tem um significado: autor e leitor estão sintonizados.

      Beijos

      Tia LK

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  4. Oi Elika

    Gostei muito do texto e me sensibilizei com a situação do amigo que o inspirou, talvez ele ainda não tenha descoberto que assim como a risada a felicidade também é quântica, não chega toda de uma vez e continuamente como se pensava que a luz se comportava, há que saber reconhecer os pequenos pacotes e recolhê-los e curti-los à medida em que vão chegando. Nunca vi ninguém rindo classicamente:AAAAAAAAHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAHHHHHHAAAAAAAAAHHHHHHH, nem feliz de maneira contínua. rs rs rs. Beijocas

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    1. Pois é... e a frequência que esse pacote chega depende somente da pessoa.

      As vzs estamos tão desatentos que deixamos passar várias oportunidades de soltar boas e belas gargalhadas contagiantes.

      É nóis, Maza! =)

      Beijos

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  5. Oi, Elika,

    Gostei muito do seu texto, muito bem trabalhado e profundo, mas olha só que ironia: Você fala sobre rir das bobagens que você escreve, mas é um dos textos mais tristes que você já postou. Tudo ali é um desejo seu de ter o poder de mudar destinos, mas nesse texto não há nada engraçado, como é a sua característica. Senti falta de algo genuinamente engraçado que me fizesse rir. Você me fez pensar!

    Beijos, Elise.

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  6. Puxa vida, Elika! Que coisa!!! Um texto perfeito que se começa a ler e, de tão bom e redondo, terminamos antes de conseguir respirar de novo. Difícil de encontrar essa sua precisão e destreza pra pegar um sentimento tão seu e esparramar pra gente com tamanha generosidade. Concordo com o Paulo-Roberto lá de cima, em gênero numero, grau e intensidade. Seu talento clama por uma morada com capa e folhas de papel pra gente pegar e se deliciar no velho estilo.
    Parabéns!!
    Andre Nakamura

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  7. André,

    Estou no meio e um doutorado. Assim que eu terminá-lo e achar um ilustrador para os textos (a grande maioria eu roubei da web)eu organizo tudo e juro que vou tentar transformar essa grande e gostosa "brincadeira" num livro.

    Obrigada mais uma vez.

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  8. Poxa, vc quer pouco! :-) rs! Bom texto, beijos!

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  9. Poxa, vc quer pouco! :-) rs! Bom texto, beijos!

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    1. =D Conforme fui escrevendo, fui querendo cada vez mais.

      :-)

      Que bom que vc gostou também.

      Beijos

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  10. Oi Elikinha,

    É muito bom mesmo quando conseguimos fazer alguém mostrar os dentes, seja quando contamos uma fato engraçado, ou quando, de um modo engraçado, fazemos piada do nosso cotidiano, ou quando emplacamos um comentário inspirado na conversa, ou escrevemos uma nota certeira no Facebook ou em qualquer que outro jeito que a gente tenha se expressado.
    O seu texto é uma reflexão bem poética, bonita e incorporada a essas modernas e instantâneas formas de comunicação, sobre os caminhos que uma palavra segue depois de dita ou escrita. O tempo todo essa palavra influencia as pessoas à nossa volta e nos influencia.

    A gente escreve as coisas principalmente porque sentiu que estava precisando escrever. Mas é muito bom quando descobre que alguém também estava precisando ler.

    Quanto à sua cabecinha, espero que ela fique cada vez melhor!

    Só não vou dizer de novo que adorei seu texto prá vc não ficar muito metídis... Ih, já disse. :)

    Bjs

    Leonam

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  11. Leonam!

    É isso mesmo.

    "A gente escreve as coisas principalmente porque sentiu que estava precisando escrever. Mas é muito bom quando descobre que alguém também estava precisando ler."

    Perfeito!

    Muito gradecidis! =)

    Quanto a minha cabecinha... ontem tive vontade de arrancá-la. Outra crise... :-(

    Estou anotando tudo e em breve te ligo para uma nova consulta.

    Beijos beijos beijos

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  12. Oi professora,
    Adorei seu texto, e eu acho que todo mundo gostaria de ter esse poder bom na vida das pessoas, de fazê-las sorrir e fazer com que toda tristeza fique de lado por um tempo só para dar espaço a uma boa e verdadeira gargalhada. Até porque não tem nada mais bonito do que ver uma pessoa rindo de verdade.
    Talvez você não consiga fazer algo tão automático como gostaria, mas com certeza ao ler seu texto muita gente(inclusive eu) reflete sobre coisas que não tinha parado pra pensar antes, e isso de certa forma já faz uma diferença enorme, mesmo que seja algo inconsciente.
    Adoro seus textos, de verdade.
    Beijos,
    Fernanda.

    OBS.: Por acaso você se baseou ou se inspirou no texto do Rubem Braga chamado "Meu ideal seria escrever..."?

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    1. Fernanda,

      Fiquei muito feliz com o seu comentário. Como disse meu amigo Leonam "A gente escreve as coisas principalmente porque sentiu que estava precisando escrever. Mas é muito bom quando descobre que alguém também estava precisando ler."

      Li muita coisa de Rubem Braga, mas não conhecia esse texto. Tvz já o tivesse lido e como vc disse, tenha colocado no meu inconsciente. =)

      Grande beijo

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  13. Elika
    Estou eu aqui de novo, não tenho tempo para ler sempre os seus textos, mas sempre que leio me vejo fascinado.
    Te admiro muito e esse é um dos melhores textos, que você escreveu, que eu já li. Outro que eu gosto muito é 'O Presente'.
    Parabéns pelo seu texto. Todos que lerão não irão rir, mas com certeza irão repensar muitas coisas que fazem na vida.
    Parabéns, de verdade.

    Beijos

    Thiago Sardo

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    1. fala, seu nerd!

      Saudades de você, Thiago!

      "O Presente" é um dos meus preferidos tb.

      Muito gradecídis pela sua visita e saiba que um comentário seu para mim é motivo de muito orgulho e alegria.

      beijos

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  14. Muito bom! E por falar em facebook, deixei por lá uma solicitação de amizade. Parabéns e um grande abraço!

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    1. Marcelo?

      Que bom que vc finalmente apareceu no meu cafofo para me fazer uma visita!

      Obrigada pelo comentário!

      []

      LK

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  15. Parabéns pelo texto. Estou triste, quando me sinto assim acabo navegando pelo Google procurando um blog pessoal, e sempre encontro alguns. É uma forma de fazer amigos (mesmo que eles não saibam, mas eu acabo conhecendo novas pessoas e sempre volto pra saber postagens novas). O seu é muito bom. Eu acho muito interessante conhecer as idéias, histórias de pessoas que eu não conheço. Adorei demais suas postagens (Principalmente essa).

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    1. Puxa M Morais,

      Fico feliz pelo seu elogio, mas preocupada com a tristeza do novo amigo.

      Volte sempre e que as minhas postagens contribuam para que seu astral fique lá em cima.

      Abraços

      LK

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