quinta-feira, 28 de março de 2013

Páscoa






Essa parada da Páscoa é bem interessante e tem toda uma simbologia e uma confusão encantadora. Ninguém sabe direito o que é que está sendo celebrado, mas todos entram na onda pascal de uma forma ou de outra já que existe o feriado. Há até uma crônica de Luis Fernando Veríssimo que sempre é muito compartilhada nas redes sociais sobre o embaraço de ideias que fazem parte desta data. Jesus nasce no dia 25 de Dezembro, morre na Sexta-feira santa e nas quartas de cinzas ninguém sabe o que O deixou tão cabisbaixo. Judas, quem traiu Jesus, é malhado no Sábado e sabe deus porque não na própria sexta. E o coelho com tudo isso? Seria porque procriam muito e é o símbolo da vida? Fertilidade? Por que não os ratos? Ok, ratos são feios. E o ovo associado ao coelho? Como se deu esse amálgama? E os chocolates? Como eles entraram para essa história??? Quem veio primeiro: o ovo ou o coelho? É uma confusão dos diabos...

Para os que são realmente cristãos, semana-santa é coisa pra lá de séria. Em cidades do interior é comum vermos muitas pessoas pagando penitências. Mamãe, que sempre foi fumante desde que me conheço por gente e católica outrora bem mais praticante, tem mania de passar a semana santa sem fumar. É preciso sofrer como uma forma de agradecimento ou cumplicidade e como é bem sabido, Deus gosta de ver seus filhos sofrerem. Reconhece a nossa aflição. E no Domingo, mamãe vira aquela chaminé de felicidade e libertação! Um troço lindo de se ver! 

Confesso que a data me encanta. Ela tem algo de poético e a poesia não está nem aí para os fatos reais, para as crenças pessoais, pois não tem obrigação com o passado, não versa sobre um futuro, mas acrescenta muito no nosso presente. Fatos como guerra, violência urbana, pastores no congresso, corrupção, fechamento do engenhão, orgia de elites perdidas, droga, fome pelo mundo... entram nas nossas casas diariamente. E a Páscoa com seus símbolos e seus logotipos indestrutíveis e imortais - : peixe, estrela, cordeiro, pomba, pão, cálice de vinho, sinos, velas, coelhos, chocolates, ovos, bacalhoada, festa...- é como a música Alegria Alegria de Caetano Veloso. O Sol pode se repartir em crimes, espaçonaves, guerrilhas, por entre fotos e nomes, ela pensar em casamento e o cara nem aí pra menina mudando de assunto na lata dizendo que nunca mais foi à escola... com todo esse furdunço por que não ir em frente? Quem lê tanta notícia? Quem liga para tanta desgraça? Não há solução para tantos problemas e ainda mais o da morte! Aí que entra  o raio de esperança (ou seria o raio da esperança?) da Páscoa... a gente precisa seguir vivendo a qualquer custo. A imagem de Cristo vivinho da Silva, limpinho e alvíssimo depois de ter levado tanta porrada dos zoto é a nossa imagem e semelhança. A gente continua vivo também e que legal seria se pudesse ser com os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores, sem livros e sem fuzil, sem fome e sem telefone... 

Contemplando as cenas de morte que a mídia de maneira fantasmagórica nos desenha e nos faz lembrar de como somos efêmeros, a Páscoa está aí para nos dar uma boa sensação de sermos infinitos tal como Jesus que teve a sua vida devolvida depois de ter sido, como nós, tão agredido. Com ou sem chocolate, com ou sem bacalhau, com ou sem sacrifício, a despeito de não entendermos nada sobre o assunto e de muitos de nós não sermos sequer cristãos,  somos lembrados que devemos aproveitar a data para revigorarmos e fortalecer a crença numa humanidade melhor. Aquela velha pieguice de sempre: renovação, libertação, recomeço... Por que não? Por que não? Por que não?


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As obras que ilustram esse texto são do artista Sergio Ricciuto Conte



quarta-feira, 27 de março de 2013

Pobre Tumita...




Ontem fiz uma postagem no feicebuque que começava dizendo que eu estava admirando "A última Ceia". Com medo de que alguém não soubesse o que era, eu, metida que só, expliquei: "o famoso quadro de Leonardo da Vinci" (depois de ter confirmado no gúgol (porque eu não sou boba nem nada) se o quadro era mesmo do Leo e não do Mich). Estabaquei-me logo no primeiro comentário de um jovem sábio que me disse que "A última Ceia" não era um quadro e sim um afresco. Pronto. Lá estava a minha ignorância exposta publicamente. Mas eu nunca fui mulher de ficar com vergonha de parecer desprovida de inteligência. Apaguei a postagem porque fiquei com medo de parecer desrespeitosa ao dizer que  comecei a  imaginar todos do “quadro” dançando o Harlem Shake. Deletei não pela gafe, mas por receio de cometer uma heresia logo na semana da Páscoa. 

E para provar que não tenho vergonha de minha ignorância, que não me senti derrotada como Napoleão depois da batalha de Watergate, vou expor outras mancadas. Semana passada na hora do banho, lembrei-me da música do Djavan, aquela que fala dos sentimentos que temos quando saímos do avião. Linda. Grande sucesso. Comecei a cantá-la alto. Ah Djavan... "gênio da nossa música popular brasileira"... pensava  eu enquanto entoava as belas notas daquela melodia e a sujeira era subtraída de meu corpo... “♪♫ Ao sair do avião, Zudi pisou num ímã. Branca é às três da manhã ♪♫”. Já limpa  e seca continuei cantando pela casa e cheguei ao computador. Peguei a letra e soltei a música bem alta pelos meus fones de ouvido para cantá-la toda juntinha com o grande mestre. Levei um susto... Djavan não estava fazendo uma Ode às pessoas que pisavam em solos firmes vivinhas da silva, se aproximando do solo como um metal se aproxima de um ímã e de tão alegres que via o dia claro em plena três da madrugada... O certo é “Açaí guardiã, zum de besouro, um ímã. Branca é a tez da manhã”. Sem metáforas alguma. Letra sem pé nem cabeça... Achei Djavan uma merda...

Minha filha Nara entrou para aula de canto neste ano e eu quis enchê-la de cultura e dizer que não basta cantar, é também necessário que se interprete o que cada frase está dizendo para que a voz passe emoção. Aprenda com os grandes, minha filha! Mandei logo o vídeo da Elis cantado “Como Nossos Pais”. Havia uma parte em que ela falava que somos imaturos, não deixamos as ideias cozinharem no tempo certo e que por isso não conseguimos enxergar o novo. Prestenção quando chegar essa parte, Nara! Aquela estrofe, para mim, foi a minha filosofia de vida e se sou aberta às novas ideias até hoje foi porque Elis sempre me chamou a atenção de forma incisiva que ♪♫ “Mas é você que é mal-passado e que não vê...” ♪♫,  e repetia que ♪♫ “Mas é você que é mal-passado e que não vê...” ♪♫ e concluía ... “♪♫ que o novo sempre veeeeemmmm♪♫”. Qual o quê! Imprimi a letra para dar para a Nara e meu mundo caiu. Quem não vê é quem ama o passado e não quem é mal-passado, imaturo e não-pensante... Odiei. Amassei a folha e fiquei um tempo me questionando com aquela bola de papel numa mão e a outra no queixo tal como aquela escultura "O Pensador" de Monet. Fiquei me perguntando como  não podemos amar o passado. Como??? Tem que ter paciência de Lot para repensar a vida. E eu não a tive. Joguei aquela porcaria no lixo.

Como a minha postagem mostrou, as minhas inépcias não fazem parte somente do passado. As músicas de hoje também podem piorar aos meus ouvidos (embora elas já não tenham mesmo quase nenhum encanto (tais como muitas da minha época... Sejamos justos como Moisés, né? Lembram da “Kátia Flávia, a cotia de Irajá”? Então... mesmo concertando não tem jeito aquela porcaria. ♪♫ O que você qué? Calcinha! O que você qué? Calcinha! ♪♫ Cruzes...)) Por isso estranhava Vanessa da Mata “ter medo do inseguro e dos fantasmas da minha avó”. Sempre achei a música desrespeitosa. Tratar as avós assim como assombrações é muita falta de amor e de versos mais bonitos e criativos. Mas nunca mudei a estação da rádio quando da Mata cantarolava esse disparate por causa da Elis que até pouco tempo atrás como já disse,  falava-me que o novo sempre veeeeemmmm e que era para eu deixar as coisas amadurecerem no meu intelecto! E por isso, abri-me tanto para esses noviços que cheguei a  achar Seu Jorge mega bacana porque fez uma música exaltando todas as mulheres de hoje que fazem várias coisas tipo ir ao cabeleiro, ao eletricista, malhar o dia inteiro e ainda assim ter pinta de artista. 

E nem vamos falar de quando eu era criança e que ao cirandar morria de pena do Tumitinha, cujo amor era pouco e por isso se acabou. Tumitinha...aquele mesmo que dava anel de vidro para a namorada não por carecer de dinheiro mas por ser incapaz de se apaixonar intensamente e presentear a sua pouco-amada com algo decente. Tipo ouro. Amemos! Mas não pouco como Tumitinha para não ficarmos que nem tontos dando meia volta, volta e meia dando por esse mundo mundo vasto mundo como já nos dizia Vinícius. 

Pobre Tumita...







quarta-feira, 13 de março de 2013

Conclave Sem Clave II




E a fumaça saiu preta de novo... mas, seja ela branca ou preta não deve ofuscar a atenção dos motivos que levaram Bento XVI a renunciar. Para muitos católicos, foi um gesto de humildade, a renúncia a imortalidade, ao poder. 


Quem conhece um pouquinho só da história da Igreja sabe quantos abusos e crimes foram cometidos por ela em nome do Senhor. Padres se mostraram coniventes com a escravatura; a Inquisição levou à fogueira homens e mulheres,... e não nos esqueçamos que a expressão “santo de pau oco” evoca o contrabando de ouro e diamante recheando as imagens dos santos que viajavam com os sacerdotes. Joseph Ratzinger renunciou durante os maiores escândalos de pedofilia mundo afora e com a revelação da rede de prostituição que opera em Roma que oferece serviços sexuais de seminaristas. (Sei que nada disso diminui o mérito de muitos clérigos que se despojam de ambição e conforto e dão as suas vidas para que outros tenham uma outra melhor.) (Mas isso, infelizmente é só um parênteses dentro de um parágrafo).

Enquanto milhares de fiéis esperam a fumaça branca, eu espero que juntamente com os votos abrasados que viram pó e fumaça preta não sejam também queimados documentos que provam a corrupção no banco do Vaticano e quiçá o mordomo de Bento XVI que botou a boca no trombone. Espero também que o novo papa não fuja de muitas questões como fugiu Joseph Ratzinger porque, caso contrário, seguirá convivendo com a hipocrisia de uma moral contida na doutrina que vai de encontro com a moral vivida pelos fiéis. 

É isso. Desejo, do fundo do meu coração que o novo papa calce as sandálias da humildade (aquelas de pescador tal como usou Jesus), que ele abdique dos títulos honoríficos herdados do Império Romano e assuma com os cardeais de todo o mundo, o mais evangélico de todos os seus títulos oficiais do Papa e que é utilizado para se referir a ele no início das bulas pontifícias: Servus Servorum Dei, que quer dizer, “Servo dos Servos de Deus”.





terça-feira, 12 de março de 2013

Conclave sem clave



Na semana passada o mundo comemorou o Dia Internacional da Mulher. Lindas postagens no feicebuque nos parabenizando, outras nem tanto fazendo piadinhas machistas e outras tantas mostrando a importância do dia para reflexão do papel feminino na sociedade.

Hoje inicia-se o conclave e em todos os jornais só se fala disso. O mundo olhando uma chaminé.


Quantas mulheres vemos nas imagens mostradas na televisão ou estampadas nos jornais? Nenhuma. Curioso isso. Ainda que sejam madres, freiras e tenham um vida dedicada à Igreja, elas, as mulheres, não têm direito a voz e nem a voto dentro da convenção clerical em lugar nenhum no mundo e muito menos em Roma.  Há mulheres lá dentro, mas apenas para cozinhar, lavar e quem sabe até prestar algum serviço sexual! (Dadas as notícias dos últimos tempos não há mais o absurdo).

Agora vejam: a ex-freira brasileira Ivone Gebara, que possui doutorado em filosofia e teologia, sofreu um processo de silêncio obsequioso (pena decretada pelo Vaticano a religiosos que publicam livros contrários aos dogmas da igreja) na década de 80. Tal castigo a obrigou a renunciar os seus votos de freira. O que ela queria? Mais participação! Fala sério...



Aff. Esses homens com chapéus vermelhos não poderiam, além da escolha do novo papa, repensar as estruturas de governo e os privilégios medievais que a comunidade católica ainda oferece??? Aí sim, eu veria alguma beleza nesse ritual, por ora, impossível....

Vou dar uma de Galileu que perguntou aos seus opositores: O que Aristóteles acharia de tudo isso? É claro que Aristóteles, inteligente que só, compreenderia os argumentos do filósofo italiano e concordaria que essa parada da Terra ser o centro não cola mais. Se querem imitar Aristóteles comecem pela inteligência, ma che cazzo!!! Pois, então, imitando Galileu, pergunto-me: O que Jesus Cristo acharia se estivesse vendo isso tudo? Como procederia Jesus nas atuais situações? Seria contra o preservativo? Os anti-conceptivos? Acharia correto proibir as mulheres de participar de grandes decisões da Igreja? Teria medo delas? O que Jesus acharia desse monopólio? E desse juridicismo e desse clericalismo? Dessa violência espiritual e dessa hipocrisia? Obrigaria Jesus o celibato? Proibiria Jesus a comunhão aos recasados? Que diria Jesus sobre as relações sexuais antes do casamento? Como procederia Jesus em relação ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso? O que acharia Jesus vendo os bispos bebendo vinhos caríssimos em taças de ouro decidindo quem será o novo líder da Igreja e proibindo não só as mulheres, mas todo o seu rebanho de participar dessa decisão???

Esses que se dizem cristãos são os que menos parecem entender sobre Jesus. Ao que ele foi, é (sim, para muitos ele é como Elvis, está vivo em nós), quis e quiçá quer! 

Se a Igreja, e agora me remeto à todas as Igrejas Cristãs, é a comunidade dos que de fato acreditam em Cristo, não seria mais coerente ser o exemplo e pregar a mensagem cristã não em primeiro lugar aos outros, mas a si mesma e, portanto, não pregar apenas, mas cumprir as exigências de Jesus?

Pois muito bem, sabe o que eu acho que diria Jesus se acompanhasse, como eu, essas notícias todas de conclave pra cá, sem clave pra lá? Jesus diria:

Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.


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- O que esses palhaços estão fazendo aí, mãe? - Perguntou-me Yuki, meu caçula de seis anos, apontando pra televisão que mostrava os cardeais entrando na Capela Sistina protegidos pelos guardas em riste.


- Que isso, meu filho?

É... eu estou pegando muito pesado. Devo estar falando alto pela casa o que penso e o menino está aprendendo a se dirigir as pessoas dessa forma...desrespeitosa... Que feio, Elika. Que feio... É hora de rever tudo de novo... ver meu filhinho se dirigindo aos...se dirigindo aos...se dirig...  

- Yuki, meu filho, de quem vc está falando, afinal???

- Desses palhaços do patati patatá, mãe! Não são eles aí em pé durinhos olhando os padres?

Não é que parece???

- Eu pensava que vc estivesse se referind... esquece, meu filho, esquece. Esses aí não são os palhaços não, tá?